segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Cap 0



TIC TAC

TIC TOC

La estava ela. No meio de todos os alunos. Uma figura estranha que impunha respeito e temor se erguia perante todos os outros. Professores, funcionários e alunos não conseguiam marcar uma presença tão forte quanto a daquela garota.
Olhos azuis e cabelos brancos longos e opacos caíam até sua cintura. Em volta dela inúmeros garotos e garotas conversavam animadamente. Alguns riam, outros puxavam conversa fiada, mas todos olhavam para ela.
Me aproximei até que ficasse a 5 metros da mesa em que se sentavam e olhei firmemente para ela. Todos os outros repararam na minha atitude e, logo em seguida, pararam de conversar. Houve um silêncio mortal que se perdurou por alguns segundos, até que ela reparou que eu me encontrava ali.
-Sim? Oque deseja? - um dos alunos que estavam na mesa me perguntou.
Fiquei quieto. Não havia o que falar. Enfim encontrei alguém que fosse parecido comigo. Era impossível conter a excitação. Os olhos dela me examinaram e, pela primeira vez, ela mostrou um sinal claro de perplexidade. 
Sim, ela viu Moti. O coelho que sempre está ao meu lado. Ninguém além de nós os vê. Criaturas invisíveis que demonstram uma parte muito forte de nossas personalidades. Todos nós temos um assim, mas só algumas pessoas as tem fora de si. Essas pessoas podem vê-las, toca-las, ouvi-las, etc. Não somente seus próprios Karshas mas também o de outras pessoas que os tenham fora de si.
O motivo de meu silêncio ocorreu devido a um simples fator:
MEDO.

Atrás dela eu vi uma sombra disforme que se erguia a pelo menos 2 metros de altura. Uma criatura composta por raízes e mais raízes que se estendiam por todo seu corpo. Presas e garras se encolhiam para dentro desta (mas estavam la) e o pior: inúmeras rosas vermelhas surgiam de todo seu corpo. Dentro destas, acolhido pelas pétalas, assim como uma pérola, haviam olhos que piscavam incessantemente.
Era horrível, assustador, amedrontador. Nada como aquilo havia se passado pela minha cabeça quando imaginava como seria o Karsha de outra pessoa.
Ela encarou-me por  alguns segundos, depois de aceitar a situação que se encontrava ela se levantou.
Os alunos em volta ficaram perplexos.
-Alice, onde você vai?
-É mesmo. Por acaso esse garoto está lhe incomodando? 

-Não.-ela falou. Sua voz estava calma, mas por dentro podia ver um pouco de receio.-Eu o conheço, estava justamente esperando por ele.
Ela deixou suas coisas e foi em minha direção. A coisa também a seguiu. Andamos alguns passos para fora do alcance dos outros alunos e,ainda na lancheria, ela me perguntou:
-Quem é você?
-Sou um aluno novo, o diretor disse que eu deveria me encontrar com os outros dois alunos especiais da academia. 
-Entendo. Então quer dizer que enfim somos três.
-O que isso quer dizer?
-Por hora você não precisa saber. Logo o diretor deverá lhe explicar onde está se metendo.
Fiquei quieto. Sabia que algo realmente estava para acontecer. Mesmo assim, não podia ficar parado. Enfim encontrei outra pessoa com um Karsha assim como eu, precisava perguntar:
-Você sabe por que o diretor quer tanto reunir pessoas que possuam Karshas em um único lugar?
-Como assim?
-É que eu realmente não entendo ainda. Não teria como pagar uma escola de ponta como essa nem em meus sonhos. Um quarto próprio por alunos, laboratórios totalmente equipados, refeições liberadas. É muito bom para ser verdade. Ainda por cima tudo saiu de graça. O diretor queria que eu viesse para cá desesperadamente. O pior de tudo é que ele sabe dos Karshas mas nem ao menos possui um. E também....
Parei no instante que vi o olhar de desinteresse dela.
-Você realmente não sabe de nada?
-Não.
-Ótimo.
-O que tem de ótimo nisso?
Ela deu uma olhada em Moti novamente. O coelho branco verificava o relógio de bolso que guardava de baixo de seu chapéu de palha. Ela se virou, encarou seu Karsha com um olhar de tristeza. Logo em seguida começou a andar em direção ao corredor que levava para fora do refeitório. Comecei a segui-la. 
-Você me perguntou por que era ótimo você não saber de nada não é?-ela começou depois de uma longa pausa.- É porque desse jeito...

VOCÊ SERÁ O PRIMEIRO A MORRER.